A Onda (2009)






O filme é baseado em um fato real acontecido na Califórnia, em 1967. Um professor, a fim de que seus alunos melhor entendessem o que teria sido o regime nazista e como seria seguir as instruções de um líder, realiza um experimento em sala de aula que explica na prática tal regime. Colocando-se como líder do grupo, dá ao Movimento o nome de "A Onda". No entanto, com o tempo, o Movimento se estende  para além dos muros da sala de aula, propagando violência que foge ao controle do professor. 

"A Onda" nos remete imediatamente a alguns textos freudianos como: Totem e Tabu  (1913), Psicologia de grupo e análise do ego (1921), O futuro de uma ilusão (1927),  O mal-estar na civilização  (1930), dentre outros.  Tais textos abrangem questões relativas aos fenômenos de desenvolvimento cultural, principalmente a construção do laço social.

Os laços sociais só podem ser pensadas a partir da existência de uma ordem, ou seja, de um mecanismo que regule e normatize as relações sociais, uma lei! Freud, no seu texto Totem e Tabu, levanta uma hipótese acerca da origem das civilizações ao apresentar o totemismo como a base da organização social de todas as culturas. A relação de subordinação ao Totem, bem como a existência dos tabus (não matar o animal totêmico e não ter relações sexuais com membros do clã totêmico do sexo oposto-incesto), permitiu a manutenção de uma ordem civilizatória, visto que seriam estas duas pulsões, agressividade e sexualidade, que se fariam presentes em todas as manifestações sociais, que, portanto, para a civilização existir é preciso a sua repressão, ou seja, uma lei que as proíba, fortalecendo os laços sociais. 

Considerando a organização dos grupos como semelhantes da horda primitiva de Totem e Tabu, o que se percebe, no filme em pauta, é exatamente a organização de um grupo a partir de um líder incontestado (professor) ligados por um ideal comum, que, para Freud, seria esta identificação um dos mecanismos que promove o vinculo social: "o sujeito   se   impõe   como  membro  de   um  coletivo,  sendo  configurado   valendo-se de  suas   regras  e  seus modos de geração subjetiva". 

No entanto, em "A Onda" o que se percebe não é apenas a formação e a participação dos alunos em um grupo, o que é comum a todos ao longo de suas vidas, mas trata-se principalmente da intolerância gerada pela formação de tal grupo que passa a propagar a violência àqueles que não fazem parte. 

Para Freud algumas características são comuns aos membros de um grupo: "a diminuição da capacidade intelectual, ausência de controle das emoções, incapacidade de tolerar frustrações e inclinação a exceder todos os limites na descarga da emoção sob a forma de ato." Ato este, que no filme, se apresenta com demasiada violência àqueles que consideram estranhos. 

No contexto do filme, a lei que deveria ser aquela que nos faz renunciar ao gozo, para nos dar limites, perde sua sustentação, causando um rompimentos das fronteiras que deveriam demarcar os limites das relações, permitindo que cada um aja conforme sua vontade, o que nos grupos acaba por ser potencializado, através de atos impulsivos, prevalecendo a antiga lei : olho por olho, dente por dente!

Por Suiá Freitas de Queiroz


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